quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

XICA QUE MANDA

A história de Francisca da Silva é conhecida. Quando os portugueses andavam por Minas Gerais a sacar ouro e diamantes aos índios, uma mulata de Tijuco tornou-se amante do contratador João Fernandes de Oliveira. A mulata, conhecida por Chica, era filha de um português e de uma escrava africana. Foram aos milhares, os negros capturados em África que os portugueses levaram para as américas. Tinham bom corpo para as minas. Os preferidos eram os guineenses, cria-se que possuíam poderes mágicos para a descoberta do ouro. Nomes como Ouro Preto, Diamantina, Minas Gerais, guardam rios de sangue em cada uma das letras. Mas a verdade é que, ontem como hoje, os pigs portugueses e espanhóis apenas faziam o jogo sujo. Ganhavam com o negócio ingleses, da parte lusa, e banqueiros alemães, genoveses, flamencos, da parte espanhola. As “coroas ibéricas” viviam luxuosamente debaixo de hipotecas. Velhas histórias.
No seio da miséria, florejaram cidades luxuriantes entretanto transformadas em ruínas com história. Eduardo Galeano conta que em Potosí, na Bolívia do século XVII, havia cento e vinte prostitutas célebres que faziam as delícias dos mineiros. Já em Ouro Preto, no século XVIII, os ricos engalanavam-se com as últimas modas europeias e esbanjavam tudo em festas, jogos, mulheres. João Fernandes de Oliveira, educado na melhor universidade portuguesa, tinha a seu cargo a exploração de diamantes (actividade herdada do pai). Apesar de nunca ter contraído matrimónio com a ex-escrava, da relação pública e assumida nasceram 13 filhos. Xica tinha dois bastardos de anteriores cruzamentos. Conta-se que a paixão de João Fernandes de Oliveira por Francisca da Silva era tal que mandou construir um lago artificial, com barco e tripulação no meio das águas, para satisfazer um velho desejo da amante: ver o mar. Nada que se compare ao que Francisca fez por ele, salvando-o de nefastas maleitas devidamente elencadas pela medicina da época. Cito Galeano, que por sua vez cita Miguel Barnet, que por sua vez citou Esteban Montejo (vale a pena seguir os links):


«En Cuba se atribuían propriedades medicinales a las esclavas. Según el testimonio de Esteban Montejo, «había un tipo de enfermedad que recogían los blancos. Era una enfermedad en las venas y en las partes masculinas. Se quitaba con las negras. El que la cogía se acostaba com una negra y se la pasaba. Así se curaban en seguida».

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