A história de Francisca da Silva é conhecida. Quando os
portugueses andavam por Minas Gerais a sacar ouro e diamantes aos índios, uma
mulata de Tijuco tornou-se amante do contratador João Fernandes de Oliveira. A
mulata, conhecida por Chica, era filha de um português e de uma escrava
africana. Foram aos milhares, os negros capturados em África que os portugueses
levaram para as américas. Tinham bom corpo para as minas. Os preferidos eram os
guineenses, cria-se que possuíam poderes mágicos para a descoberta do ouro.
Nomes como Ouro Preto, Diamantina, Minas Gerais, guardam rios de sangue em cada
uma das letras. Mas a verdade é que, ontem como hoje, os pigs portugueses e
espanhóis apenas faziam o jogo sujo. Ganhavam com o negócio ingleses, da parte
lusa, e banqueiros alemães, genoveses, flamencos, da parte espanhola. As “coroas
ibéricas” viviam luxuosamente debaixo de hipotecas. Velhas histórias.
No seio da miséria, florejaram cidades luxuriantes
entretanto transformadas em ruínas com história. Eduardo Galeano conta que em
Potosí, na Bolívia do século XVII, havia cento e vinte prostitutas célebres que
faziam as delícias dos mineiros. Já em Ouro Preto, no século XVIII, os ricos
engalanavam-se com as últimas modas europeias e esbanjavam tudo em festas,
jogos, mulheres. João Fernandes de Oliveira, educado na melhor universidade
portuguesa, tinha a seu cargo a exploração de diamantes (actividade herdada do
pai). Apesar de nunca ter contraído matrimónio com a ex-escrava, da relação
pública e assumida nasceram 13 filhos. Xica tinha dois bastardos de anteriores
cruzamentos. Conta-se que a paixão de João Fernandes de Oliveira por Francisca
da Silva era tal que mandou construir um lago artificial, com barco e
tripulação no meio das águas, para satisfazer um velho desejo da amante: ver o
mar. Nada que se compare ao que Francisca fez por ele, salvando-o de nefastas maleitas
devidamente elencadas pela medicina da época. Cito Galeano, que por sua vez
cita Miguel Barnet, que por sua vez citou Esteban Montejo (vale a pena seguir
os links):
«En Cuba se atribuían propriedades medicinales a las
esclavas. Según el testimonio de Esteban Montejo, «había un tipo de enfermedad
que recogían los blancos. Era una enfermedad en las venas y en las partes masculinas.
Se quitaba con las negras. El que la cogía se acostaba com una negra y se la
pasaba. Así se curaban en seguida».
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