quarta-feira, 30 de abril de 2014

LIMPINHO, LIMPINHO

No ano passado morreram quase mais 24 mil pessoas do que as que nasceram, leio no Público. Há dias, lia que a emigração levou-nos um quinto dos trabalhadores qualificados. Em 2012, o número de emigrantes foi superior ao total de nascimentos. Ficam os velhos. Sem ter onde ir, o Governo vai às reformas dos velhos, quebra com os cidadãos um contrato que os sujeitou a uma vida de trabalho na esperança de uma velhice sossegada. Resume-se o sossego a contar tostões para sustentar famílias sobrecarregadas com o desemprego dos filhos, os que ficam, arrumados em casa dos pais, sem perspectivas de futuro. Ter filhos tornou-se uma ambição luxuosa, constituir família um pesadelo a evitar. Ganham com isto algumas empresas que se aproveitam das fragilidades sociais para imporem salários miseráveis e todo o tipo de abusos. Temendo o desemprego, os trabalhadores sujeitam-se a horas extraordinárias não pagas. É trabalho gratuito, uma actualização da escravatura. Algumas feridas dos bancos foram estancadas, as assimetrias agravam-se a toda a hora. Cada vez mais, um núcleo reduzido de pessoas detém toda a riqueza. A maioria sobrevive de migalhas. Milhares de licenciados arrastam-se por todo o tipo de actividades em condições precárias que oferecem aos mais jovens uma trágica realidade: estudar para quê? A sociedade estupidifica-se, desinteressada do saber e da cultura, para todo o efeito actividades inúteis que não levam a sopa à mesa. Quem pode, quem consegue, esquiva-se ao palco onde o drama é representado. Economia paralela subiu para 26,7% do PIB, um em cada dez portugueses comprou bens ou serviços na economia paralela, revelam as estatísticas mais animadoras e, como é óbvio, sempre eufemísticas nestes domínios. Uma classe política incólume enriquece à custa de favores, salta do Estado para empresas privadas numa promíscua relação de interesses. Prática reiterada à qual já nem se chama corrupção, são oportunidades de uma vida. Quanto à corrupção estamos falados, as prescrições aí estão nas parangonas da imprensa a dar nota da justiça que nos cerca. Uma justiça desvairada, enceguecida pelos pós mágicos dos grandes escritórios de advogados. Portugal não é para quem quer, muito menos para os portugueses, é para quem pode. Perante isto, que interpretação fazer dessa expressão “saída limpa” que envaidece o actual Governo? Saída limpa? Nesta imundície?

3 comentários:

MHGF disse...

Este país não é para velhos...

Marina Tadeu disse...

Recomenda-se o protesto sujo à moda do IRA

hmbf disse...

Ora bem, Marina. Neste momento, não vejo outra via.