Entrei numa loja com a missão de comprar um par de cornos para a minha
mais pequena. As funcionárias estavam mascaradas, deixando-me num estado de pânico controlado (manifesta-se em crises de ansiedade com um letreiro na testa a dizer tirem-me deste filme). Desde
miúdo que tenho fobia a mascarados. Aguentei-me. Mas como se não bastasse,
aquilo a que hoje chamam atendimento personalizado, e que consiste numa
abordagem agressiva ao cliente, com sucessivas tentativas de venda acrescentada,
enxotou-me automaticamente para um canto. Isto nada tem de personalizado, é uma
coisa automática, impessoal, de guião decorado exaustivamente sob ameaça de
clientes mistério e quejandos. As empresas enveredam por este registo convencidas
de que melhoram os resultados. É provável que melhorem. O que me deixa, mais
uma vez, na angústia de constatar a existência de uma relação entre os bons
resultados das empresas e a decadência social.
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