A Ática vai publicar um livro intitulado Suicidas. Por
razões óbvias, o tema interessa-me. Conferir aqui. A pouca originalidade do
título não me afastará desta Antologia de Escritores Suicidas Portugueses, nem
o prefácio de Valter Hugo Mãe (suponho que já se escreva com maiúsculas). O
autor da antologia é Pablo Javier Pérez López, Doutor em Filosofia na
Universidade de Valladolid. Também esse facto não será impeditivo. Só a nota de
apresentação pode, de algum modo, provocar-me hesitações. Diz-se que a
antologia contém textos de Antero, Florbela, Camilo, Manuel Laranjeira, Mário
de Sá-Carneiro e Barão de Teive. Terão ficado de fora outros, tais como Eduardo
Guerra Carneiro ou Guilherme de Faria ou Cristóvam Pavia? Não é grave. O que
enjoa é o discurso generalizador:
Nos suicidas portugueses encontramos a Nostalgia, a
Saudade, quer dizer, “a dor da proximidade do longínquo”, a profunda
experiência da loucura, a profunda experiência do amor, a profunda experiência
da ausência, a profunda experiência da morte e, por tudo isso, a profunda,
incarnada e experiência trágica da vida e portanto da literatura em que a
paixão e o padecimento e o mistério da verdade se tornam indistinguíveis e por
vezes insuportáveis.
Com tanta profundidade, podemos desconfiar ser esta uma
antologia de mineiros. Não é. Mas a primeira questão que cabe colocar é: qual a diferença entre os suicidas portugueses e os de outras partes do mundo? O que tantas vezes enfatizamos neste tema não
passa de rasteira da sensibilidade. Tendemos a julgar profundo, na
personalidade dos outros, o que na realidade se revela até bastante
superficial. Deverei lembrar casos onde a decisão pela morte nada teve de
trágico? Mais uma vez, incorremos no risco evitável de confundir a experiência
trágica da vida com a experiência cómica da literatura. Esta é sempre uma
construção sobre a outra, e não tem que reflectir de modo mais ou menos
confessional, as dores, as frustrações, as náuseas da existenz. O fado é das canções, a saudade nunca foi exclusivo nosso. Perguntem aos habitantes do Burundi. Mais espantoso é que
tanto escritor profundamente deprimente não se mate, levando até vidas, pelo
menos na aparência, ligeiras de riso e alegria imensa. Talvez isso merecesse
um estudo académico, talvez merecesse uma enciclopédia.
p.s.: podendo parecer que não, terá tudo que ver com isto.
p.s.: podendo parecer que não, terá tudo que ver com isto.
2 comentários:
Talvez a grande homenagem a Unamuno, fosse alguém, de preferência espanhol, acabar com o dogma forjado a partir do título do seu livro. Até porque esse "dogma" é tão insultuoso como revelador de q dessa obra apenas foi lida a capa.
tiraste-me as palavras do bolso
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