terça-feira, 15 de setembro de 2015

FINALMENTE UMA NOTÍCIA

Sábado passado, enquanto conduzia com o auto-rádio sintonizado numa estação pública, comentei com a minha mulher o espantoso momento noticioso que acabáramos de ouvir. Acções de campanha da coligação PPD-PSD-CDS-PP, do PS e do BE. Então e a CDU, não mexe? Estranhámos, até pela reincidência, não ouvir uma única notícia, um apontamento, uma gravação, o que fosse sobre a campanha da CDU. Finalmente, aí estão as notícias. O Expresso informa os portugueses de agressões ocorridas na Festa do Avante. A novidade é que um grupo de seguranças agrediu e sequestrou seis indivíduos, entre os quais um longo militante do partido. O partido afirma que encaminhou a situação para as autoridades. Para apimentar a situação, um dos agredidos queixa-se de homofobia. Trata-se de um cidadão espanhol que, segundo o próprio, estava a beijar outro homem quando foi abordado pelos seguranças. Outros órgãos de informação credíveis, tais como o Correio da Manhã, o Observador e o Sol, agitaram-se com tamanha novidade e fizeram alarde da notícia. O país está ao rubro, há agressões no Avante, os comunistas finalmente se revelam. Ainda por cima revelam-se homofóbicos. É esta a conclusão a retirar, num exercício de causa-efeito-causa que faria corar de vergonha qualquer racionalista crítico. O PCP pode agora emitir 500 comunicados sobre as ocorrências, a leitura será sempre a mesma e está explanada no efeito ridicularizador do silogismo: um rapaz queixa-se de ter sido agredido por seguranças da festa do Avante enquanto beijava outro homem; os seguranças da festa do Avante estavam a trabalhar para o PCP; logo, os comunistas são homofóbicos. Para agravar a situação, num dos comunicados do partido afirma-se que «A verdadeira razão do incidente que conduziu à saída das pessoas do recinto da Festa teve origem num acto de sexo oral em pleno espaço». A vítima nega a acusação e questiona: «Se tivesse sido sexo oral justificaria a violência?» É óbvio que não, a violência nunca se justifica quando está em causa o amor. O que a gente não sabe, nem há-de querer saber quando a verdade for apurada pelas autoridades competentes, é o que realmente se passou. Podemos adivinhar, sobretudo quando estão metidos ao barulho seguranças. Mas adivinhar não chega. É preciso fazer disto um tema nacional, é absolutamente fundamental para o futuro do país que o Observador, o Correio da Manhã, o Sol e o jornal do irmão de António Costa tenham finalmente notícias para dar sobre a campanha, o programa, a luta da CDU. E que notícia melhor senão um incidente envolvendo seguranças e seis pessoas numa festa por onde passam milhares, há anos, de todas as cores e feitios, sem que nada de “especial” houvesse para noticiar. Portanto, lamentar o sucedido, responsabilizar os seguranças e pedir desculpa às vítimas já não chega. É preciso um acto de contrição. Talvez obrigar os referidos seguranças a praticar sexo oral uns com os outros resolvesse o terrível problema. Talvez não. Perguntem ao director do Sol, esse especialista em homossexualidade e casas de banho públicas.

Sem comentários: