segunda-feira, 21 de setembro de 2015

HA! HA! TAVARES!


Foi só uma coincidência, mas comecemos por aqui. À hora a que recebia a notícia da morte do Editor (10:56:24, sms do JAO), um cliente pedia-me os livros de poesia da Patti Smith. Que vai ao concerto e queria oferecê-los à namorada. Lamento, não estão disponíveis. Da Patti Smith, o mais que posso arranjar é um livro de memórias. Apenas Miúdos. Era eu um miúdo quando Ha! Ha! Houdini foi editado na &etc, uma produção das publicações culturais engrenagem, lda. 1000 exemplares de um folheto traduzido por Paulo da Costa Domingos, data de Junho de 1982. Tudo diferente do que se faz hoje, diria mesmo impossível repetir a façanha. Um simples folheto agrafado, um poema do tradutor a “introduzir” a tradução, «ensaio para o grande espectáculo rebelde», o poema vertido para língua de Camões e, por fim, o texto original. 1000 exemplares disto, hoje? Esqueçam. Começa assim:

Harry Rouclere!!!

conheces? Um iluminado.
que trocou a centelha divina por
uma vida de aviador. bateu a asa
pondo as cartas na mesa.
acredita. ele tinha o coração no
sítio devido. que homem.

Mas Harry Houdini era muito mais que um homem.
era um anjo.

Como não acredito em anjos, fico-me pelo homem. Que homem, um homem com o coração no sítio devido. É tão raro encontrar homens com o coração no sítio devido. Talvez por isso haja quem ceda à tentação de lhes chamar anjos, mas não são anjos. São homens, carne e osso, nervo e sangue, e com esse corpo fazem coisas incríveis, acrobacias incríveis. Como, por exemplo, resistir à snobeira em tempos de indigência. Magia. As duas coisas são não apenas compatíveis como andam geralmente de mãos dadas. Um colega pergunta-me o que tinha de especial o homem do coração no sítio devido. Não pensei muito, a modesta opinião do leitor é: foi um Editor que se esteve sempre nas tintas para essa coisa do mercado editorial, uma coisa dominada por cagões que tanto podiam vender livros como fraldas. Ninguém notaria a diferença. Mas nota-se a diferença quando se entre pela obra de um homem assim. Patti acrescenta:

O seu nome é falso, ele não.
não foi alquimista. nem cientista.
nem prestidigitador com coelhos a sair de
chapéus altos. nem curandeiro. nem
profeta. mas sim um homem que
buscou o paraíso através da magia natural.
aprofundando as nossas técnicas de salvação.

ele era intrinsecamente aéreo.

2 comentários:

mariposa disse...

um grande abraço, hoje, amigo. Também tu um homem com o coração no sítio certo, Continuemos - Vitor é o principio da palavra Vitória, mesmo que hoje não pareça.

hmbf disse...

Abraço. E saúde,