terça-feira, 22 de setembro de 2015

O MEU PRIMEIRO & ETC


A questão deve ser colocada nos seguintes termos: um amador de livros jamais poderá ignorar o trabalho realizado por um projecto editorial como o & etc. Pequeno, mas influente. Em diversas perspectivas. Influente porque deu a conhecer o desconhecido, ora traduzindo textos e autores ignorados pelos educadores das massas, ora projectando novos autores do seu próprio país. A determinada altura, para as hostes algo neuróticas da poesia portuguesa, publicar no & etc foi um atestado de competência. Muitos o desejaram, alguns o conseguiram, outros fizeram-se à vida por caminhos e atalhos alternativos à alternativa. Confesso que um dia me passou pela cabeça fazer chegar às mãos do editor aquele original, o livro que podia levar o selo. Confesso que me passou pela cabeça, felizmente como um relâmpago passa pela paisagem. O não seria demasiado doloroso, catastrófico, pelo que me precavi de tais horrores metendo a intenção na gaveta. Isto vinha de um culto que começou a ser alimentado com um livro adquirido na extinta Assírio & Alvim da Rua Miguel Contreiras (Cinemas King). Foi-se o cinema, foi-se a livraria, ficaram os livros. Em Plena Noite ou o Bluff Surrealista, de Antonin Artaud, mais uma vez traduzido e prologado por Paulo da Costa Domingos. Capa e cortinas de Carlos Ferreiro. A data de edição é de Novembro de 1988, mas devo tê-lo adquirido quando comecei a frequentar as salas dos cinemas entretanto desaparecidos. Lá pelos 90 e tais. Em Plena Noite ou o Bluff Surrealista, 2 Cartas Sobre o Ópio, O Suicídio e Eu Tratei Antonin Artaud pelo Dr. Gaston Ferdière introduziram-me no universo & etc e marcaram-me para a vida. Poderia eu ter escrito Suicidas sem antes ter lido as palavras de Artaud?: «A matar-me não será no intuito de destruir-me, mas sim para me reconstituir, o suicídio será para mim unicamente um meio de me reconquistar pela violência, de fazer uma irrupção à bruta no meu ser, de ganhar a pouco segura vantagem de Deus» (p. 37). Talvez, mas seria tudo diferente. Depois deste, seguiram-se outros. Muitos. E foi sempre um prazer escrever sobre eles, neste ou noutros espaços de partilha. Deixo links para alguns desses textos, focados em livros tais como Imitação de Ovídio, de Alberto Pimenta, Negrume,O Ano da Morte de José Saramago e Açougue, de Amadeu Baptista, A Neo-Penélope, de Ana Hatherly, Marias Pardas, de António Ferra, Learicks, de Edward Lear, Vida Extenuada, de Fátima Maldonado, Fialho Negro, de Fialho d'Almeida, Boca do Inferno, de Gregório de Matos, Logros ConsentidosA Disfunção Lírica, de Inês Lourenço, Blues Para Uma Puta Velha, de Jorge Fallorca, Sr. Porco, de Jorge Roque e Guilherme Faria, Obsessão, de José António Almeida, Diário Íntimo, de Luís Amaro, Alçapão, de Manuel Cintra, Curso Intensivo de JardinagemSorte de Principiante e, de Margarida Ferra, À Barbárie seguem-se os Estendais, de Miguel Cardoso, Cancioneiro da TrafariaCova Funda, de Nunes da Rocha, LondresK3, de Nuno Dempster, A EscritaAverbamento, de Paulo da Costa Domingos, Linhas de Hartmann, de Paulo Tavares, A Máscara da Anarquia, de Percy B. Shelley, Vigaristas, Ladrões e Assassinos, de Raymond Hesse, Zaroff, de Richard Connell, Manifesto da Mulher Futurista, de Valentine de Saint-Point, Bagagem de Mão, de Vítor Nogueira, A Beleza da Vida, de William Morris, 20 Poemas a Anton Webern, de Zé Luís Costa. Outros se seguirão.

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