O debate a 10 foi uma farsa. Não é possível debater a 10.
A farsa ficou evidente logo no início, com uma pergunta diferente para cada um
dos nove candidatos presentes. Maria de Belém cancelou a sua participação
devido à morte de Almeida Santos. Henrique Neto só esteve mal por se ter esforçado
em falar de política onde era impossível falar de política. Chamou a si, mais
uma vez, a aura de candidato anti-Sócrates. Lá terá as suas razões industriais
e industriosas para a fixação. Sampaio da Nóvoa quis debater com Marcelo, mas
encontrou uma muralha de 8 candidatos pelo meio que o impediam de chegar ao seu
interlocutor predilecto. Ofereceu o CV a Cândido Ferreira. Este, sempre muito
engasgado, quer fazer-se ouvir para lá de onde a sua voz alcança. Por certo
contra sua vontade, deixou no ar uma ideia de intriguista insuportável. Edgar
Silva percebeu desde o início que não ia haver debate, pelo que encarou a coisa
como uma entrevista aos solavancos. Henrique Neto elogiou-lhe a frontalidade,
Marisa o percurso, Marcelo pôs-se em linha com algumas das ideias comunistas sobre
combate à corrupção. Lindo. Jorge Sequeira foi Jorge Sequeira, só diz
banalidades com as quais é quase impossível discordar. Se este homem se meter a
escrever livros de auto-ajuda será bestseller garantido. A não ser que Vitorino
e Silva lhe queira fazer concorrência com o povo, o número zero, o povo, mais
uma vez o povo. Agora que trata a Marisa Matias por tu, garante-se-lhe um lugar
no panteão da frescura onde tudo é morno e sensaborão. Fez aquilo que melhor
sabe fazer, provocar gargalhadas. Marisa Matias foi dos candidatos a mais
incisiva (talvez exista aqui um qualquer erro de concordância). Não embarcou na
patacoada demagógica antipartidos, e fez muito bem, revoltou-se contra as
subvenções vitalícias, e fez muito bem (só não fez melhor por se ter esquecido
que não estava sozinha na revolta, como quis fazer parecer), apertou a mão a
Vitorino e Silva e esperemos que não tenha feito mal. É difícil não simpatizar
com Marisa Matias, sobretudo por causa do tom de voz. Lida quase tão bem com as
câmaras de televisão quanto o candidato que estava do seu lado esquerdo, o
imparável Professor Marcelo. Pediu desculpa aos restantes candidatos por lhes
estar a tomar tanto tempo, concordou com todos em pelo menos uma questão, foi
capaz de se desdizer em matéria de custos de campanha como se estivesse a falar
do assunto pela primeira vez, afirmou-se vítima do seu próprio partido em
matéria de “rendimento mínimo garantido”, não mordeu as canelas a ninguém, fez
festinhas na cabeça a todos. Marcelo sabe que lhe basta ser cordial nos tempos
que correm. Curiosamente, Paulo de Morais acabou por ser o mais atacado. Será
que os candidatos do pelado, para utilizar a terminologia do Tino, julgam poder
amealhar votos junto dos leitores de Da Corrupção à Crise – Que fazer?
Apoiando-se nas crónicas de Louçã, Marisa perguntou-lhe por que é que em tantos
anos metido num partido político nunca denunciou ninguém. É uma boa pergunta. O
médico atirou-lhe com as notícias sobre lacunas na declaração de rendimentos,
património e cargos sociais entregue no Tribunal Constitucional (TC). Só
Marcelo, à direita de Paulo de Morais e à esquerda de Marisa Matias, lhe afagou
paternalisticamente o pêlo. Se isto fosse um jogo de anca, já teríamos
vencedor. E não seria a Marisa.
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