Nas noites negras para roubos, chuvas, ventos,
E nas noites quentes em que o luar abafava estrelas,
À hora de os sonhos baixarem vagarosos do céu,
Alguém dobrava com uma ordem doce os meus joelhos,
Juntava as minhas mãos inocentes e fracas,
E eu rezava como se repetisse uma canção.
E o meu sono era sempre sob a guarda de estrelas...
É a vida, agora, quem dobra os meus joelhos cansados
Que guardam a marca das pedras mais rugosas.
É a angústia da vida quem junta as minhas mãos,
As minhas mãos mais fracas e incertas.
Soltam-se da minha alma orações desesperadas,
Orações que as tristezas e os dias compõem.
Se no céu há estrelas, estão lá em cima e só brilham....
Alberto de Serpa (n. 1906 - m. 1992), in Presença, II s., n.º 2, 1940. «Alberto de Serpa é sobretudo o poeta dos momentos de recolhimento reagindo à mediania burguesa "numa cidade provinciana e triste"» (A. J. Saraiva, Óscar Lopes, in História da
Literatura Portuguesa).
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