BATER A PEDRA, BATER
o chão. Perpendicular
a perna do homem, fio-de-prumo,
constituindo medida e
sustento do gesto. O homem calça-terra
agora está de joelhos.
A gota do rosto
deslizando como
mínimo mar quase em queda.
Sua boca toca a lata precisa de cócacóla.
E os passantes desajeitados
acertam batentes tacões sobre o tosco fóssil desenhado.
Elisabete Marques (n. 1982), in Cisco (2014). «Não deverá ser indiferente para a compreensão das
propostas de Elisabete Marques saber que a autora se doutorou com uma tese
sobre Maurice Blanchot e Samuel Beckett. Nesse particular, seria especialmente
proveitoso considerar a poesia do irlandês, no que esta tem de esfacelamento
impiedoso da palavra, biselada até ao limite do concebível. (…) Esta poesia,
entrecortada por uma utilização da pontuação adversa à norma, é percutida por
ritmos de compasso apertado, e revolteada pelo sopro da ambiguidade. O rasto
desse modo de dizer, pensadamente dúbio, pode advir da sobreposição de unidades
frásicas, que conduzem a distintas possibilidades de significado; como é
possível que resulte de opções lexicais menos vulgares, quando não abertamente
disruptivas da estandardização verbal (…)» (Hugo Pinto Santos, Público, 27 de
Março de 2015).
2 comentários:
Desconhecia e gostei muito. Como sempre grata, Henrique.
Ambos gratos, então, à Elisabete. :-)
Enviar um comentário