terça-feira, 31 de janeiro de 2017

[BATER A PEDRA, BATER]


BATER A PEDRA, BATER
o chão. Perpendicular

a perna do homem, fio-de-prumo,
constituindo medida e
sustento do gesto. O homem calça-terra

agora está de joelhos.
A gota do rosto
deslizando como
mínimo mar quase em queda.
Sua boca toca a lata precisa de cócacóla.

E os passantes desajeitados
acertam batentes tacões sobre o tosco fóssil desenhado.


Elisabete Marques (n. 1982), in Cisco (2014). «Não deverá ser indiferente para a compreensão das propostas de Elisabete Marques saber que a autora se doutorou com uma tese sobre Maurice Blanchot e Samuel Beckett. Nesse particular, seria especialmente proveitoso considerar a poesia do irlandês, no que esta tem de esfacelamento impiedoso da palavra, biselada até ao limite do concebível. (…) Esta poesia, entrecortada por uma utilização da pontuação adversa à norma, é percutida por ritmos de compasso apertado, e revolteada pelo sopro da ambiguidade. O rasto desse modo de dizer, pensadamente dúbio, pode advir da sobreposição de unidades frásicas, que conduzem a distintas possibilidades de significado; como é possível que resulte de opções lexicais menos vulgares, quando não abertamente disruptivas da estandardização verbal (…)» (Hugo Pinto Santos, Público, 27 de Março de 2015).

2 comentários:

Marina Tadeu disse...

Desconhecia e gostei muito. Como sempre grata, Henrique.

hmbf disse...

Ambos gratos, então, à Elisabete. :-)