Notei a ausência de pássaros, aves de grandes asas e bico
pontiagudo. Há dias parei o carro para dar passagem a um pássaro. Acabou atropelado
do outro lado da estrada. Por cima de nós, ouvia-se um bando de gaivotas aflitas debatendo o sentido da vida dos répteis e de todas as espécies de rastejantes que sob elas circulavam. É curioso como lhes tendo fobia sinto tantas vezes sua falta. Dá-se
comigo esta coisa de geralmente amar o que me mata. O frio, por exemplo. Esta
humidade do poema:
VIDAS
Há em certas florestas tropicais um tipo de fungo que
escolhe as formigas como hospedeiras. Os seus esporos penetram o corpo da
formiga até se instalarem na sua cabeça. A formiga atacada por este fungo em
breve dá sinais de desorientação e acaba por ser levada pelas outras para longe
do grupo. A formiga hospedeira finalmente imobiliza-se e da sua cabeça nasce
uma haste de fungo que cresce vertical e magnífica, como uma flor, sobre o
corpo morto da formiga.
António Amaral Tavares, in Animais Incluídos, Medula,
Setembro de 2016.
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