Não vi a entrevista do futuro presidente dos EUA, enquanto o
actual presidente se desdobra em incomensuráveis acenos de despedida. Odeio
despedidas, não tenho paciência para Trump. É-me penoso, demasiado penoso,
escutá-lo, pelas mesmas razões que me é penoso observar alguém a despedir-se reiteradamente.
Enjoo. Enjoou-o. Enojou-o. Enjoo-o. Engou-o. Talvez não me faça entender, o que
é normal. Trump é daqueles tipos que me tiram do sério. Durante a campanha, fartei-me
de o ouvir e fartei-me de ouvir tipos como o Stephen Colbert e o Jimmy Fallon a
fazerem piadas sobre ele. Péssima abordagem. Temo haver algo de perversamente patológico em indivíduos como Donald Trump, e estou convencido de que caricaturar
a patologia só a agrava. O problema começa em não levarmos o homem a sério, da
mesma maneira que levamos Wolfgang Schäuble. É uma hipótese muito provável que
Trump venha a ser o palhaço maquiavélico do séc. XXI, num mundo liderado por
gente ao nível de um Gollum tolkieniano. Nem sei bem o que quero dizer com
isto. Enfim, sei. Quero dizer que me faz tudo muita impressão, ouvir Trump
falar e ouvir falar sobre Trump.
5 comentários:
Um excelente programa na onda desses dois mas que possivelmente (porque não vi os outros dois mas conheço os tipos) fez uma abordagem mais séria - tal como com outros inúmeros temas - foi o Last Week Tonight, com o John Oliver.
Não vejo.
Quando era jornalista, entrevistei o Mel Brooks e inevitavelmente a conversa foi calhar aos “Producers”, ou seja à sátira da mentalidade e da estética hitleriana e à legitimidade desse exercício. Ele disse, “todos estivemos no Holocausto”. Entendendo porém o teu ponto de vista, levaria o argumento ainda mais longe. A não ser que tenham laços nas comunidades muçulmanas e mexicanas nos Estados Unidos não me venham falar do Trump. Pronto.
E mulheres? E deficientes? E afro-americanos? E judeus? O homem só ainda não insultou o KKK e os amigos da NRA. Eu só julgo é que já é tempo de o levarem a sério.
Calma, não pretendo aqui atormentar-te com argumentos de conversa de café. Só um tolo não levaria a sério a ameaça que esta presidência representa, por mais mecanismos que o tão sacrossantificado sistema norte-americano tenha para a deter. Por mim, antecipo até a reintrodução da arte degenerada. Projectos megalómanos de pintar a Estátua da liberdade, o Empire State e as caras dos emigrantes de douradinhos e o resto, lixo. Muito motim, muito custo humano, muita indignação. O fascismo, na suas mais variadas expressões, será sempre menos grotesco do que a nossa incapacidade de contrapor algo que apazigúe o medo que o sustenta. Nesse sentido, o riso de um torturado, por exemplo, é uma libertação suprema.
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