quinta-feira, 2 de março de 2017

UM POEMA DA LOUCURA: Escobar

HOSPITAIS

Eu vi Rimbaud amarrado a uma cama
e o Papá Protagonista amarrando-o com força,
e o seu pijama, soltando-o - gritavam e soltaram-se
os ossitos virgens com doutores soprando
o fagote partido,
quebraram-se os copos, as persianas, os símbolos
e logo, a cada um, segundo os seus sintomas,
entregaram o seu comprimido, os seus olhos, a sua quaresma.
Era o ano bissexto destes dias de Março e vi
como se empoleirava o chibo numa pedra.
O choncholí explorando o seu cercado, e ele sentado
olhando por cima -
responsabilidade e culpa dos telefones,
dos velhos modos dos juízes
e dos seus filhos. Eu vi Rimbaud cuspindo
numa cesta de olhos bem temperados,
e são como agulhas. Vi-o «Não me
arrependo». Estou tranquilo, sou
o escriba, o boi
que não teve nada. Estou tranquilo.


Ángel Escobar Varela, in Poesia Cubana Contemporânea, tad. Jorge Melícias, Março de 2009, p. 105.

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