Eu creio que podia viver continuamente absorto na contemplação de um ser feminino. A mulher é a fonte inesgotável para as minhas reflexões, para as minhas observações. Cada parcela de beleza deve ser medida na sua harmonia. Cada uma em particular possui uma pequena parcela, restando tudo tão completo em si mesmo feliz, alegre, belo. A cada uma a sua parte: o sorriso jovial; o olhar esperto e vivo; os olhos ardentes; o espírito brincalhão; a doce melancolia; a intuição profunda; o humor sombrio e fatal; a nostalgia terrestre; as emoções inconfessadas; as sobrancelhas que falam; a boca que interroga; a fronte cheia de mistério; os corações sedutores; as pestanas que escondem o outro; o rubor insondável; os passos ligeiros; o andar gracioso; o modo languido; o sonhar impaciente; os suspiros sem explicação; a cintura esbelta; as formas leves; o seio amplo, as ancas bem desenhadas; o pé curvo, a mão pequena... E quando eu vi e revi, contemplei e contemplei ainda as riquezas deste mundo; quando sorri, suspirei, adulei, ameacei, desejei, tentei, esperei, ganhei, perdi - fecho este leque de maravilhas, e o que se espalha em redor parece-se a uma outra coisa, e o meu coração começa a bater e a paixão nasce. A mulher é uma aparência. Raramente há mulheres que sejam outra coisa, e o meu coração começa a bater e a paixão nasce. A mulher é uma aparência. Raramente há mulheres que sejam outra coisa senão uma aparência. A maior parte nem isso são.
Palavras de Sören Kierkegaard, por Agustina Bessa-Luís, in Estados Eróticos Imediatos de Sören Kierkegaard, Guimarães Editores, Maio de 1992, pp. 55-56.
3 comentários:
A mulher é uma aparência" e não é tudo? :)
Esta peça de teatro é excelente, Maria. Ias gostar. Infelizmente, não é fácil de encontrar. Posso emprestar-ta. É só combinarmos. Saúde,
Ok, fica combinado para um dia destes.
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