quarta-feira, 30 de agosto de 2017

UM POEMA DE RICARDO TIAGO MOURA

assim éramos pouco
e somos bastantes
de tectos e vãos
se abriga um chão:
em primeiro lugar
o lugar o suporte
sem terra não há como
ganhar fundação             / em vidro temperado
crescer filhos fortes        / meu sonho perdido
assim vamos sendo         / canto no banho
empreendimento             / choro algas
pilares bem assentes       / e óperas
na terra dos outros          / ser filho dos pais
acinzenta-se o mundo     / empresa fatal:
irmãos com irmãos         / não me comovo
cunhados muitos             / com coberturas
dinheiros seguros            / manobras de cálculo
revestem-se muros          / movimento de gruas
cinzelados a frio              / minhas mãos de pedra
andaimes varandas          / acinzentam o mundo
divisórias de abrir           / assenta-se o lar
campainhas alarmes        / em vidro temperado
só lhe falta falar:             / para sempre mudo
e tudo constrói                / (cinzento-calado)
unidade no lar                 / não posso cantar /


Ricardo Tiago Moura (n. 1978), in pequena indústria, Tea For One, Janeiro de 2016, p. 19.

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