O meu primeiro contacto com o Rui Costa ocorreu algures entre
2004 e 2005, antes da publicação de A Nuvem Prateada das Pessoas Graves (Quasi,
2005). Eu tinha um weblog intitulado Universos Desfeitos, assinava com o pseudónimo
de Juraan Vink textos de que sobram alguns exemplos aqui, aqui ou aqui. O Rui
encontrava-se então em Inglaterra, onde estudou e trabalhou. Pediu-me opinião
sobre alguns dos seus poemas e questionou-me sobre a possibilidade de os
divulgar no Universos Desfeitos. A empatia com os poemas que me apresentou foi
imediata, tendo sido precisamente por aí que a nossa amizade se iniciou. Quando
o livro de estreia foi premiado, eu já conhecia alguns daqueles poemas. À
época, o Rui colaborava comigo num outro weblog. O Insónia surgiu da
cessação do Universos Desfeitos e da minha vontade de então gerir algo colectivo, tendo sido o Rui Costa uma das primeiras pessoas que convidei para
esse gozo conjunto. O primeiro post do Rui Costa no Insónia foi publicado a
25/Julho/2017, ainda não nos conhecíamos pessoalmente: «Só as loucas é que
sonham com os príncipes encantados. Ou seja: altos, fortes, esbeltos, além de
corajosos, gentis, amorosos, enfim, perfeitos. Isto é: chatos como a potassa
posta em sossego no tubo de ensaio com uma boa meia-dose de pó de talco». Era
assim o Rui, as suas palavras tinham uma força que tanto nos seduziam pela
dança, como nos colocavam de atalaia pela provocação. Há um outro post dele no
Insónia de que gosto muito. Não sei explicar porquê. É um post simples, que de algum modo antecipa a era
Twitter e nos diz qualquer coisa sobre a distância entre o poder e as populações. Apetece-me partilhá-lo hoje aqui:
SMSs DE LONDRES
LONDRES I
Subitamente, pela primeira vez: as pessoas olhando umas para as outras.
LONDRES II
O senhor polícia veio tirar-me a lata de cerveja da mão: é proibido (disse)
beber na rua em toda a área de Westminster.
LONDRES III
Dizia o António Aleixo (cito de memória mas acho que é assim), desconhecendo a
cidade e os novos verbos:
Como um só não é bastante
nós vamos ter, certamente,
Um guarda por habitante
Pra que não roubem a gente.
Em muitos sítios públicos de Londres (pronto, reparei mais nos bares) pode
ver-se um cartaz com o desenho de dois olhos e a frase: "A melhor arma
contra o terrorismo".
LONDRES IV
Quando o blow job é ultrapassado pelo blow up job.
LONDRES V
O melhor presunto português comi-o em Londres (shame on me).
Rui Costa
30/Julho/2005
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