sábado, 21 de outubro de 2017

UM SONETO DE RUI COSTA

EM QUE POEMA TE VI NÉVOA OU BRUMA

Em que poema te vi névoa ou bruma
anémona agonizante cama ausente?
Em que recanto de meu medo te pressente
o desejo de seres todas. Ou nenhuma.

Em que silêncio poisas uma a uma
as luzes que vestiste? De repente
lamber-te o sexo querer o aroma quente
das laranjas e dizer-te que alguma

vez acabarias de nascer. Nascer.
Moscas de fogo. Em ti eu me deponho.
No teu pescoço de terra calcinada.

Acalantos. Água. Saber ou não saber
que nos faróis da noite vem o sonho
e depois do sonho não vem nada


Rui Costa, in Mike Tyson Para Principiantes - antologia poética, org. André Corrêa de Sá (coordenador da edição), António Aguiar Costa, Cláudia Souto, Margarida Vale de Gato, Assírio & Alvim, Setembro de 2017, p. 89.

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