CANSAÇO
Caminho dia e noite
Como um parque desolado
Caminho dia e noite entre esfinges desmoronadas de meus olhos
Perscruto o céu e sua erva cantante
Olho o campo ferido por gritos desmesurados
E o sol no meio do vento
Afago meu chapéu cheio duma luz incandescente
Passo a mão sobre o dorso do vento
Os ventos que passam como as semanas
Os ventos e as luzes com gestos de fruta e sede de sangue
As luzes que passam como os meses
Quando a noite se apoia sobre as casas
E o perfume dos cravos gira sobre seu eixo
Sento-me como o canto dos pássaros
É o cansaço longínquo e a neblina
Caio como o vento sobre a luz
Caio sobre minha alma
Eis o pássaro dos milagres
Eis as tatuagens de meu castelo
Eis as minhas plumas sobre o mar que se afasta
Caio de minha alma
E desfaço-me em pedaços de alma sobre o inverno
Caio do vento sobre a luz
Caio da pomba sobre o vento
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