De uma viagem a Dublin, trouxe um livro de James Joyce: Poems and
Shorter Writings (Faber and Faber, 2001), organizado por Richard Ellman, A.
Walton Litz e John Whittier-Ferguson. A edição original data de 1991. Recolha
diversa de poemas, aforismos, textos curtos entre os quais se destacam as
Epifanias. Na introdução, diz-se que as 40 epifanias estão entre os mais relevantes
textos da juventude de Joyce que sobreviveram no tempo. 40 de um total de
71, a servirem de ponte entre a primeira poesia e a ficção posterior. Muitos
destes fragmentos, garatujados entre 1901 e 1904, acabaram por integrar a
bibliografia posterior. Enquanto os vertia para português, tomando liberdades
várias que não vale a pena justificar, fui recordando partes de livros
tais como Ulisses, Dublinenses ou o Retrato do Artista Quando Jovem. Algumas
aproximam-se de poemas em prosa, outras serão meros apanhados circunstanciais,
há momentos dramáticos, líricos, eróticos, espirituais. A. Walton Litz sublinha
dois tipos fundamentais de epifania, representativos dos pólos gémeos da arte
joyceana: ironia dramática e sentimento lírico. Em suma, serão, terão sido,
manifestações de um olhar atento às suas circunstâncias. O que há de epifânico
nestes textos é tanto a revelação do objecto que leva ao texto como do próprio
texto. Na sua aparente banalidade, estes textos desmistificadores manifestam
anatomicamente a sua estrutura enquanto representantes de uma determinada
situação. Eis a última:
40
na Rua O’Connell:
[Dublin: ᴧ na farmácia
Hamilton, Long]
Gogarty — Isso é para Gogarty?
pagá-lo
O empregado de farmácia — (olha) — Sim, senhor. . . Vai levá-lo
Gogarty — Não, envie-o ponha na
conta;
envie-o depois. Você sabe
a
morada.
(pega
numa caneta)
O empregado de farmácia — Sim Si-im.
Gogarty — 5 Praça Rutland.
enquanto
O empregado de farmácia — (de si para si enquanto à medida que escreve)
. . 5 . .Praça. . .Rutland.
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