sábado, 20 de janeiro de 2018

ALGUNS GESTOS DE MICHELLE GRANGAUD


Uma gota de água
lentamente forma-se,
meia bolha na boca da torneira.


Já ninguém se lembra
do espanto que era
carregar no botão e haver luz.


Ali, no passeio,
a pena de pomba
em que ninguém poisou ainda o pé.


A rua espelhada
no vidro traseiro
do autocarro: corre ao invés.


Lembrar quando havia
na rua cavalos.
Um tempo que durou imenso tempo.


Anda muito pouca
gente à tardinha
na rua, no Verão, nos bairros finos.


Horizonte am-
plo, quadriculado,
que o comboio folheia como um livro.


Michelle Grangaud (n. 1941, Argel, Argélia), in Sud-Express - Poesia Francesa de Hoje, do livro Geste (1991), trad. Fiama Hasse Pais Brandão, Relógio D'Água, 1993, pp. 89-96.

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