segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

UM POEMA DE W. H. AUDEN


Sob um abjecto salgueiro

Sob um abjecto salgueiro,
   Ó amante, não amues mais:
Aos pensamentos devem seguir-se os actos.
   Para que serve pensar?
A situação invulgar e triste em que estás
   Prova a tua frialdade.
   Ergue-te a dobra
O teu mapa de desolação.

Os sinos que ressoam pelos prados
   A partir da sombria torre
Dobram por estas sombras sem amor
   Que ele não reclama.
Tudo aquilo que vive deve amar; para quê
   Curvar-se ainda perante a derrota
   Com os braços cruzados?
Ataca e conquistarás.

Os gansos em bandos que sobre ti voam
   Conhecem o seu caminho,
Os arroios gelados que sob ti correm
   Vão para o seu oceano.
Sombria e triste é a tua loucura:
   Caminha então, vem,
   Não mais entorpecido
Ao encontro do teu próprio prazer.

Março, 1936


W. H. Auden (n. 21 de Fevereiro de 1907, York, Reino Unido - m. 29 de Setembro de 1973, Viena, Áustria), in Diz-me a Verdade Acerca do Amor - dez poemas, trad. Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D'Água, 1994, p. 15. Mais sobre Auden: aqui.

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