domingo, 20 de maio de 2018

DOENÇA DE BRUNO


   No próximo DSM iremos encontrar, por certo, uma referência à doença de Bruno. Trata-se de uma patologia que associa comportamentos egocêntricos a posturas de vitimação, distúrbios projectivos a tácticas de manipulação, acompanhada, porém, de uma enorme capacidade de se fazer valer das distorções hermenêuticas a que o enfermo está sujeito. Neste caso, lavo as minhas mãos sem qualquer peso na consciência. Como nunca simpatizei com Bruno, como nunca me ouviram apoiá-lo fosse no que fosse, como desde há muito disse que a postura dele não era aconselhável à presidência do que quer que fosse, custa-me agora ter de lhe dar razão num aspecto e só num: a comunicação social portuguesa é habilidosa, tem uma tendência para distorcer o que as pessoas dizem que a gente fica sem perceber se o faz em benefício próprio (achas para uma fogueira que dá audiências) ou em benefício de terceiros (investidores interessados nas fogueiras). São vários os exemplos que podemos dar e que vêm de longe, mas o mais recente talvez seja o mais fácil de compreender. 
   Ouvi atentamente a fastidiosa conferência de ontem e em nenhum momento Bruno de Carvalho atribuiu aos jogadores a responsabilidade pelas agressões de que foram vítimas. Está errado fazer-se essa interpretação, até por mais uma vez se estar a reforçar a postura de um populista face a uma imprensa que o detesta tanto quanto adora (dá assunto). Estão criadas as condições para que o populista se faça novamente de vítima e assim reforce o apoio de quem sempre esteve com ele. O que Bruno de Carvalho disse, e de uma forma muito clara, foi que há uma história por detrás dos acontecimentos na Academia que tem de ser contada para que se perceba o que ali aconteceu. E essa história começa na Madeira com trocas de insultos entre sócios e jogadores, os quais regressaram a Lisboa já sob ameaça. Isto é substancialmente diferente de se dizer que os jogadores são responsáveis por terem sido agredidos, como os media agora veiculam. 
   O que foi dito, e tem lógica, é que perante as ameaças dos cães na Madeira, os felinos da Academia deviam ter permanecido calados, não deviam ter encrespado o pêlo. Isto é uma tentativa de contextualização das coisas que pretende: 1.º ilibar o presidente de quaisquer responsabilidades no sucedido; 2.º demover jogadores de pedidos de rescisão com justa causa. A dimensão projectiva da coisa está em que o mesmo raciocínio pode ser aplicado ao problema da relação do presidente com a equipa de futebol. Ou seja, também Bruno não devia ter reagido como reagiu quando lhe passou pela cabeça anunciar através do Facebook a suspensão de toda a equipa. Em suma, o bom senso não é definitivamente a coisa mais bem distribuída do mundo. 
   Dito isto, continuo a julgar que Bruno de Carvalho devia demitir-se. Mas já o julgo há muito tempo. Não estar hoje presente no Jamor é uma boa decisão, das poucas boas decisões que terá tomado nos últimos tempos.

2 comentários:

rff disse...

Não tem condições. Talvez depois de ouvir hoje a bancada falar, caia finalmente em si. Tenho essa esperança.
Concordo contigo. O melhor exemplo é o uso daquele "chato" que numa entrevista em momento difícil para qualquer ser humano foi amplificado e completamente descontextualizado por uma imprensa acossada que o quer trucidar. Contudo falta também na criatura muita humildade... Não se pode marcar uma conferência de imprensa para as 13 horas dum sábado, onde basicamente não se acrescenta nada de novo ao novelo (não se demitiu...) aparecer com hora e meia de atraso e depois estar duas horas a mandar tiros aos pardais... Eu desde o anúncio da entrevista até ao fim da mesma viajei quase 100 kms, almocei um magnifico cozido à portuguesa, ainda passei pelas brasas, e quando sai para ir fazer outras coisas ainda não tinha acabado...
Mas nesta fase o mais me prende a cabeça relativamente a tudo isto - porque é termo que atravessa todos os discursos políticos - é essa tal definição de populismo... E, existe muito tiro ao lado relativamente ao tema. Concedo que BC tem de facto algo de Populista e é talvez dos melhores exemplos que temos actualmente. Já tivemos um ou outro bom exemplar no passado que entretanto passaram à história. E todos concordamos nos perigos para a democracia do aparecimento de gente assim nas mais diversas áreas... Mas porra, ultimamente tenho visto aqui ou ali o canal do correio da manhã porque o Sporting é algo importante na minha vida e na de muita gente, e nem sequer me ocorre definição justa para aquela trupe...

A percentagem maior de populismo no país dos brandos costumes está nos media e aos políticos não lhes convém perceber isso...
O maior Populista Português - e vou tentar medir bem as palavras - chama-se João Miguel Tavares. Escreve alarvidades sobre tudo e nada (mais nada que tudo...) há anos no jornal de maior referência intelectual do cantinho. Faz sucessivas comparações entre pessoas que pelas contingências da natureza humana agem com motivações diversas e são na sua essência pessoas absolutamente diferentes; procura imiscuir-se na roupa interior da fernanda câncio (só para dar um exemplo) com a mesma ligeireza com que opina sobre o vácuo; radicaliza de forma fanática os juízos sobre a situação política... E tem público porque aguça aquilo que os portugueses têm de pior: a sua imaculada mesquinhez...
Agora, se me perguntarem se acho o João Miguel um tipo perigoso? Creio que não. Não o conheço de lado nenhum mas a princípio penso que não. Porque toda a gente o leva da mesma forma inocente com que ele - qual expoente máximo do Populismo - disserta sobre a sua iluminada existência humana...

hmbf disse...

Um liberal...