terça-feira, 12 de junho de 2018

DO RUÍDO ENQUANTO OBSCENIDADE COGNITIVA


Se quisermos ser menos cépticos, prudentemente esperançosos, diremos que a política passou a ser também a arte de gerir as imagens que testemunham os seus rituais.
Entretanto, reina a obscenidade cognitiva: a repetição incessante das mesmas imagens (da política ao futebol) ameaça entorpecer-nos, esvaziando não exactamente a nossa atenção ao mundo à nossa volta, mas a própria consciência crítica com que, noutros tempos, observávamos a acção dos políticos e outras figuras do domínio público — grita-se mais, especula-se infinitamente sobre a apoteose de coisa nenhuma, pensa-se menos.


João Lopes, aqui.

2 comentários:

Jorge Muchagato disse...

A política é hoje, do presidente da Junta ao presidente da República, «a arte de gerir as imagens que testemunham os seus rituais»; mas esta constatação é um resultado. De facto, a essência da política é unicamente a arte de gerir a mentira; as imagens servem a mentira, a dissimulação ou a omissão; servem e testemunham factos que radicam na mentira, mas que se apresentam como uma verdade. Tudo na política é entendido como mentira e dirigido para a sua transfiguração em verdade. Transfiguração, não transformação.

hmbf disse...

Será a provocação uma nova norma incontestável e inflexível a que toda a criatividade tem de se conformar, com o único objectivo de escandalizar?

A questão é colocada por Éléa Baucheron e Diane Routex, no livro «The Museum of Scandals — Art that shocked the world» (Prestel, 2013).