domingo, 17 de junho de 2018

UM POEMA DE JULIO MARTÍNEZ MESANZA


PREFERÊNCIAS

Nem os cumes sublimes nem os rios
que não foram manchados pelos homens;
nem os palácios nem as brancas ruínas
dos templos antigos, nem esses deuses
de mármore ou de bronze, iguais todos,
nem a alada vitória ou um bugatti,
menos ainda a música e o baile,
com seus amaneirados sacerdotes:
nenhuma dessas coisas e de outras
tão admiradas pelos mais sensíveis
e que têm que ver com o bom gosto
ne propicia uma impressão profunda.
Antes esses hangares já em desuso,
essas estações fora de serviço,
esse lsabirinto das fundições,
arrabaldes sombrios, descampados
aonde só aí se compreende
essa tristeza perplexa dos homens,
os rios que arrastam sua miséria,
escuros, majestosos e solenes,
e essas lixeiras descomunais.



Julio Martínez Mesanza (n. 1955, Madrid, Espanha), in Trípticos Espanhóis - 1.º, trad. Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, Maio de 1998, p. 153.

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