domingo, 16 de setembro de 2018

[A tia de um amigo meu]


A tia de um amigo meu
Que deus a tenha
Apesar de eu não saber
Se faleceu

Falou-lhe um dia
Depois de ver as notícias
De um grande tsinami na ilha de Sinatra

Assim que ele ouviu aquilo
Foi projectado pelo ar
Escavacou a casa toda
E saiu pela janela

Disparou o sobrinho da culatra

Mas mais
Muito mais que isso

Fê-lo à maneira dela.



Sebastião Belfort Cerqueira (n. 1987), in RSO&SBC (Douda Correria, Abril de 2018). «O leitor viciado em ecos talvez possa pressentir aqui o jovem Nemésio esperando o Navio de Sal, ou a batida sincopada do Navio de Espelhos de Cesariny, mas se esta poesia alude, e às vezes expressamente, a poemas doutros autores, de Sá de Miranda a Manuel Bandeira, essas apropriações são sempre desviadas em benefício de um mundo verbal singular e inconfundível» (Luís Miguel Queirós, Público).

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