Lado a lado, dois livros anunciam-se como «um dos
melhores livros do ano», mas o leitor hesitante terá ainda que se debater com
«um romance magistral», com «um aclamado romance» e com «um dos livros mais
importantes e denso de consequências de toda a história moderna». E isto apenas
numa fila, num de entre os muitos expositores, cada um deles abaulado sob o
peso de tais hipérboles. «Uma das características mais salientes da nossa
cultura é a existência de tantas lérias», diz Harry Frankfurt, de Princeton, em
que «lérias» é a minha tradução aguada para «bullshit». Os editores, todos
eles, lançam a rede à pesca do incauto comprador impulsivo, atropelando-se numa
escalada de adjetivos que tende para o bocejo. «E todos sabemos isso», afirma
Frankfurt logo de seguida. Aquilo que no século vinte e um almeja a ser cultura,
mais não é que uma caixa de ressonância de mistificações, digo eu.
E diz muito bem, o Xilre.
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