segunda-feira, 3 de setembro de 2018

"AI A MINHA VIDA"


Lado a lado, dois livros anunciam-se como «um dos melhores livros do ano», mas o leitor hesitante terá ainda que se debater com «um romance magistral», com «um aclamado romance» e com «um dos livros mais importantes e denso de consequências de toda a história moderna». E isto apenas numa fila, num de entre os muitos expositores, cada um deles abaulado sob o peso de tais hipérboles. «Uma das características mais salientes da nossa cultura é a existência de tantas lérias», diz Harry Frankfurt, de Princeton, em que «lérias» é a minha tradução aguada para «bullshit». Os editores, todos eles, lançam a rede à pesca do incauto comprador impulsivo, atropelando-se numa escalada de adjetivos que tende para o bocejo. «E todos sabemos isso», afirma Frankfurt logo de seguida. Aquilo que no século vinte e um almeja a ser cultura, mais não é que uma caixa de ressonância de mistificações, digo eu.



E diz muito bem, o Xilre.

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