Uma das realidades com que vamos ter de aprender a lidar
nos próximos tempos, embora ainda não perceba bem como, é a pulverização da
estupidez pelas redes sociais. Qualquer imbecil gosta de se fazer passar por
inteligente, perorando sobre tudo e mais alguma coisa sem nunca ter lido um
livro sequer sobre o assunto, sem nunca ter estudado, simplesmente assimilando
letras gordas de sítios obscuros, tendenciosos, facciosos, revisionistas. Ao
final do dia, para o imbecil valerá apenas a quantidade de likes que amealhou
com a propaganda que fez. Discussão não existe, está minada à partida pela
impossibilidade de comunicação. Há apenas exibicionismo. As últimas eleições no
Brasil tornaram isto claro, fazendo de novo emergir vetustos discursos de ódio
contra uma doutrina política em concreto: o comunismo. A fórmula usada pelas
máquinas de Bolsonaro fizeram valer a equação PT=Comunismo=Mal.
E isto, como sempre sucede com todas as equações simplistas cujo único objectivo
é estereotipar, leva-nos directamente aos fantasmas do passado.
Colocam-se lado a lado as imagens de Mao, Estaline, Pol Pot, como se
representassem uma e a mesma coisa, e toca de espalhar aos ventos a semente do
ódio ao comunismo. No caso presente, se os líderes do PT fossem como Mao,
Estaline e Pol Pot foram, Lula jamais teria sido preso, Dilma jamais teria sido
afastada, Temer jamais teria servido de ponte para Bolsonaro chegar ao poder. A
ideia de que a democracia estava em risco com o PT, mas não estará com
Bolsonaro, é não só risível como comprovativa da imbecilidade acima denunciada.
A História encarregar-se-á de mostrar quanto vale o novo Messias do povo
brasileiro, mas a História já mostrou algumas coisas que certa gente teima em
olvidar com conveniente capacidade selectiva. Tomemos como ponto de partida a
Revolução de Outubro de 1917, para não termos que recordar novamente as mãos
sujas da Igreja durante toda a Idade Média, as fogueiras da Inquisição e a
imaginação sem fim dos torturadores católicos. Depois da Revolução Bolchevique,
o mundo conheceu aquela que pelas suas características específicas foi a Guerra
mais letal de todos os tempos. Tendemos a esquecer que Hitler não era
comunista, fazendo como Pilatos na hora de nos decidirmos sobre as figuras do
Mal Absoluto. Duas bombas atómicas foram largadas no mundo, em Hiroshima e
Nagasaki. Nenhuma delas era comunista. As Veias Abertas da América Latina, de
Eduardo Galeano, mostra-nos com factos algumas das consequências da influência
norte-americana por toda a América do Sul. Sempre contra a ascensão do
comunismo no mundo, vá-se lá saber porquê. Foi neste campo minado da influência internacional, para
favorecer o capitalismo global, que um tipo chamado Osama bin Laden foi educado
pelos americanos para combater os soviéticos. Enfim, se alguém quiser avaliar os
custos de uma doutrina política no mundo através das mortes que causou, por
favor não se esqueça dos regimes colonialistas que por todo o mundo espalharam
escravatura, morte, caos. Não se esqueça do que o estado de Israel tem feito
aos palestinianos, nem do gérmen que produziu aberrações como o Daesh. Os
senhores do ódio do momento, chamem-se Duterte, que se compara a Hitler, ou
Orbán ou Erdoğan, nada têm que ver com o comunismo. É bom lembrá-lo, para que
no futuro, quando tivermos de discutir o início do século XXI, não virem com
Maduro e a Venezuela como exemplo maior dos efeitos negativos do populismo na
história da humanidade. O comunismo, em matéria de discussão política, é como os ciganos, serve sempre para disfarçar lobos com peles de cordeiro.
2 comentários:
Sim, é isso.
Sempre a tecer teias de compreensão, brilhante caro Henrique!
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