Porque há que aproveitar até ao final do fogo
aquele que
sempre quis aquecer o submerso
e a tristeza atinge o ponto
que
afugenta o espírito e aliena a mão,
pinto com estertores.
Dentro do Ser único
sob o longo pressentimento azul
quero traçar um longo caminho duplo
vermelho acaso
quero soltá-lo assim fluindo entre canções verdes
quero estender
ardor imenso reinando e ressoando
o salmo o ouro vitorioso da vida
Logo o vento é anátema
a solidão retorce-se
a obscuridade assalta
surge infinito da medula
o negro
foge perverso
traidor…
Apavorado
o enorme amarelo intromete-se oblíquo rebentando.
O negro aberto em vis asas
ronda
o espanto candente
sobe cresce extermina céu
foge a estrada cárdea
foge de
revés seu duplo uivo verde
foge
o espaço a saída a razão
não posso deter os corvos…
Amelia Biagioni (n. 1916 – m. 2000), versão de HMBF. Professora de
literatura em Gálvez, mudou-se para Buenos Aires em 1955. Foi amiga de
Alejandra Pizarnik e de Olga Orozco. Começou a publicar poesia sob pseudónimo, em
jornais e revistas, passando a usar o nome de baptismo apenas na década de
1950. O primeiro livro surgiu em 1954: Sonata de soledad. Discreta, esquiva,
acabou por publicar apenas sete livros. Estaciones de Van Gogh (1984) foi um
deles.
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