E pergunto: mas por que diabo devemos nós, e connosco o
estado português, que atribuiu as concessões a estes operadores, contribuir
para encher os bolsos aos donos e accionistas da sic e da tvi, cuja
contrapartida pelo bem público de que se servem é o de espalhar os seus
dejectos comunicacionais pelas casas dos portugueses e pelas nossas ruas,
através dos painéis publicitários?
Ricardo António Alves, aqui.
2 comentários:
e da cofina, cujos donos o ano passado lançaram essa ideia...
Caro Henrique Fialho, passeando aqui pelo teu blog, deparei com a candente questão do poema de um poeta argentino «maquilhado» para português. Vai daí, enchem-se-me os dedos de coceira e resolvi escrever este poema (um claro roubo a quem sabemos) que gostaria, sendo possível, que o publicasses aqui no teu blog.
Abraço,
JLT
COMEÇO DE CONVERSA
O poeta é um impostor
vezes se traveste de pastor
andando paisagem cheia de cor
mesmo às horas de maior calor
outras queda-se pelo cômoro vago
dedicando-se apenas ao trago
que o faz sentir-se aureolado mago
mas é apenas efeito do destilado bago
se se dá em pop cantor
tanto mundo põe em furor
que o que antes era langor
faz-se febre festa tambor
mas não tem uma doutrina de vida
mesmo se uma audiência comovida
lhe bebe a litania exaurida
ele que não crê não prega mas duvida
pensando na origem do universo
cogita acerca do uno e do diverso
mas não se tem por converso
a outra filosofia que não o verso
desse que nunca diz a quimera
ou redoura a perdida cor da hera
e nem consola a quem desespera
em negro buraco ou cratera
estranho estrangeiro é o poeta
vive no mundo em discreta greta
onde nenhum sismógrafo o detecta
nem a luz vinda de um outro planeta
perfeição não tem por meta
o mais que almeja em altura
é subir à derruída cercadura
com pouca ou nula desenvoltura
e sondar como quem inda procura
por dentro da matéria escura
o que permanece vivo e dura
para lá da vida da literatura
nunca por nunca dá ordem de soltura
às tempestades de fúria pura
seu riso apenas assoma à embocadura
onde tal um danado a si se tortura
mas o poeta é um empedernido actor
sorri de inocente jeito quando a dor
dança atiçada em esbraseado motor
que nem a voltagem inteira do terror
se outrora algaraviara com as estrelas
mudo agora em todas as sequelas
nem eco das legendárias procelas
que erguem sustos gritos mazelas
o mais que nem sonha é dar à manivela
na decadência em que nada se revela
no silêncio em que tudo se interpela
na sofreguidão que da vida o desatrela
José Luiz Tavares
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