quarta-feira, 28 de novembro de 2018

"É MUITO POUCO."


E pergunto: mas por que diabo devemos nós, e connosco o estado português, que atribuiu as concessões a estes operadores, contribuir para encher os bolsos aos donos e accionistas da sic e da tvi, cuja contrapartida pelo bem público de que se servem é o de espalhar os seus dejectos comunicacionais pelas casas dos portugueses e pelas nossas ruas, através dos painéis publicitários?


Ricardo António Alves, aqui.

2 comentários:

L. disse...

e da cofina, cujos donos o ano passado lançaram essa ideia...

José Luiz Tavares disse...

Caro Henrique Fialho, passeando aqui pelo teu blog, deparei com a candente questão do poema de um poeta argentino «maquilhado» para português. Vai daí, enchem-se-me os dedos de coceira e resolvi escrever este poema (um claro roubo a quem sabemos) que gostaria, sendo possível, que o publicasses aqui no teu blog.

Abraço,

JLT







COMEÇO DE CONVERSA



O poeta é um impostor
vezes se traveste de pastor
andando paisagem cheia de cor
mesmo às horas de maior calor

outras queda-se pelo cômoro vago
dedicando-se apenas ao trago
que o faz sentir-se aureolado mago
mas é apenas efeito do destilado bago

se se dá em pop cantor
tanto mundo põe em furor
que o que antes era langor
faz-se febre festa tambor

mas não tem uma doutrina de vida
mesmo se uma audiência comovida
lhe bebe a litania exaurida
ele que não crê não prega mas duvida

pensando na origem do universo
cogita acerca do uno e do diverso
mas não se tem por converso
a outra filosofia que não o verso

desse que nunca diz a quimera
ou redoura a perdida cor da hera
e nem consola a quem desespera
em negro buraco ou cratera

estranho estrangeiro é o poeta
vive no mundo em discreta greta
onde nenhum sismógrafo o detecta
nem a luz vinda de um outro planeta

perfeição não tem por meta
o mais que almeja em altura
é subir à derruída cercadura
com pouca ou nula desenvoltura

e sondar como quem inda procura
por dentro da matéria escura
o que permanece vivo e dura
para lá da vida da literatura

nunca por nunca dá ordem de soltura
às tempestades de fúria pura
seu riso apenas assoma à embocadura
onde tal um danado a si se tortura

mas o poeta é um empedernido actor
sorri de inocente jeito quando a dor
dança atiçada em esbraseado motor
que nem a voltagem inteira do terror

se outrora algaraviara com as estrelas
mudo agora em todas as sequelas
nem eco das legendárias procelas
que erguem sustos gritos mazelas

o mais que nem sonha é dar à manivela
na decadência em que nada se revela
no silêncio em que tudo se interpela
na sofreguidão que da vida o desatrela




José Luiz Tavares