Preparo meu alimento
a mesa indolente muda de forma conforme a intempérie
adquire a aparência de uma mulher
de uma faca à procura do meu peito
de projectos ao lume nocturno dos fracassos
vitrine de viagem incendiada ao rasar as paisagens secretas da
noite
por vezes um velho dia ressoa
surge um osso de nuvem
um insecto barrando o trilho para as montanhas
um sorriso gelado
o remoto tambor azul feito de espumas
o caminho inocente que assassina
Limites de ferro
a terra uiva na sua jaula
com a negra armadura do esquecimento
com olhar de lobo entre ruinas
insegura beleza inalcançável
o relâmpago ensopou esses rostos
a cama perde-se pelas cidades e na folhagem
Não há mais chaves do que teu desejo a tremer de raiva entre as
pedras
o selvagem paraíso do sexo
com seu pó de fogo em busca das almas
nenhuma esperança:
a porta foi rachada pela astronomia
o jardim é o riso dos mortos
Enrique Molina (n. Buenos Aires, Argentina, 2 de Novembro
de 1910 – ibidem, 13 de Novembro de 1997), traduzido por HMBF a partir da
versão coligida por Marta Ferrari, in Poesía Argentina - Antología
esencial, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis
García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 57-58.
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