sexta-feira, 30 de novembro de 2018

MATILHA

A maldição das matilhas é que mais tarde ou mais cedo obrigam-nos a ladrar contra os nossos próprios princípios, pois a defesa dos elementos da matilha impõe-se em força e instinto à honestidade intelectual (que é coisa que extravasa os domínios da bicharia). 

4 comentários:

Anónimo disse...

Sobretudo quando a matilha vai ficando cada vez mais pequena, por já ninguém aguentar o chefe. É preciso abdicar de todos os princípios para segurar os últimos dois ou três (tantos?). Até a solidão soar como um despertador para a realidade.

Anónimo disse...

Não estragues as tuas chances de publicares na Letra Morta, a continuação lógica do teu CV, depois de andares à Deriva e de dares por ti junto a um Abysmo.

Anónimo disse...

E tu, homónimo anónimo, não estragues as tuas chances de ficares calado.

E que tal alguma elevação. Depois é curioso como qualquer amador das partes baixas cita logo o Luiz Pacheco para justificar as baixezas. Não apanharam nada, não compreenderam nada , não compararam nada, leram a palavra caca nalguma estrofe, pararam aí e pumba já posso ser velhaco à vontade. Venha uma imperial.

Anónimo disse...

outras cuspo nelas três vezes como um velho soldado

Diogo Vaz Pinto


cuspir três vezes nas mãos como um velho soldado

Georg Heym, poeta



"ar decapitado"


Neste rosto fixo de vidro que me serve
de reflexo, sorrio do meu ar decapitado
entre cabeças que roçam outras estrelas,

Diogo Vaz Pinto



Esta cabeça evanescente e aguda,
tão doce no seu ar decapitado,
do Império portentoso nada tem:

Jorge de Sena



"O Capitão do Fim"

inventa ruas e te empurra para debaixo
das arcadas, onde os capitães do fim
compõem o papelão e reerguem o seu
hotel de grilos e constelações.

Diogo Vaz Pinto



Jaz aqui, na pequena praia extrema,
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

Fernando Pessoa



"soluço obscuro"


Levar depois altíssima a cabeça entre
a vertigem dos ombros, o cigarro ou esse
soluço obscuro de quem segue até ao
último astro.

Diogo Vaz Pinto



sou eu que te abro pela boca,
boca com boca,
metido em ti o sopro até raiar-te a cara,
até que o meu soluço obscuro te cruze toda

Herberto Helder



"vastas terras como a insónia"


A noite estende, por fim, o braço ponteado
de cicatrizes luminosas, mapa das
minhas tristes capitanias, terras vastas
como a insónia.

Diogo Vaz Pinto



A luz devasta as alturas
Manadas de impérios derrotados
O olho retrocede cercado de reflexos
Vastas terras como a insónia

Octavio Paz