Compro os jornais por esta altura, curioso quanto a escolhas
e balanços. Interessa-me sobretudo a música e o cinema, que aproveito para
espreitar no ano seguinte em função dos filtros. Como não se pode ver tudo, confia-se que pelo menos nestes domínios exista alguma imparcialidade. O resto não me interessa, o
panorama oferecido é estreito e confrangedor. Fosse o ano o que as listas revelam, estaríamos condenados à depressão. Pergunto-me se esta gente que
escreve nos jornais sai de Lisboa, por exemplo, para ir ao teatro? Andarão pelo
país a ver o que se faz? Duvido. Circunscritos às capelinhas lisboetas,
estreitam as vistas e fazem um péssimo trabalho. Para o qual são pagos. Nos
livros, a mesma cretinice de sempre. Obras de génio com direito a capa
desaparecem surpreendentemente das escolhas finais. A poesia parece morar toda
na mesma rua, os editores preferidos são os do costume. A variedade que existe,
que é factual e saudável, fica cerceada pelo gosto subjectivo e pela capela
preferida. Como toda esta gente frequenta a mesma, a oração enfadonha empobrece
o cenário. Admirem-se, depois, que as livrarias fechem, os jornais acabem, o
jornalismo pereça.
5 comentários:
Não percebi bem onde quer chegar no caso da poesia: entre Público e Expresso há obras da Assírio & Alvim, Relógio D'Água, Averno, Opera Omnia, Tinta-da-China, Companhia das Ilhas, Douda Correria, Avante, Língua Morta e não sei se mais algumas. Quais é que deveriam estar em vez destas, na sua opinião? Quais os seus "melhores do ano", autores que, presume-se, não pertencem às "capelas" e aos "do costume"?
O melhor livro do ano, para a minha mãe, foi o meu.
Pedro Neves, se não percebe onde quero chegar é porque não quer perceber. Logo, não vale a pena tentar explicar. Quanto às questões que coloca: não é uma questão de opinião, é um problema de vistas (estreitando a panorâmica, vê-se pouca diversidade); se não sabe, fica a saber: aqui a tradição já é outra (deixo listas dos melhores para os jesuítas). A seu tempo, a tradição manter-se-á.
L., a sua mãe tem muito bom gosto. Também adorei o seu livro, diria mesmo que se trata de um clássico do futuro (a expressão não é minha).
E para quando a lista dos melhores de 2018 aqui? Costuma ser a melhor... Sim, o que se publica por aí só vê Lisboa e um par de ruas no Porto. E depois há a pitoresca lista dos 10 melhores livros do ano que mandaram foder a literatura, segundo Manuel de Freitas...
Só em Janeiro, na esperança de que ainda hoje seja colocada à venda a novidade do ano.
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