É INFINITA ESTA RIQUEZA ABANDONADA
É infinita esta riqueza abandonada
esta mão não é a mão nem a pele da tua alegria
ao fundo das ruas encontras sempre outro céu
após o céu há sempre outra erva praias distintas
nunca terminará é infinita esta riqueza abandonada
nunca julgues que a espuma da aurora se extinguiu
depois do rosto há outro rosto
após a marcha do teu amante há outra marcha
após o canto um novo toque se prolonga
e as madrugadas escondem abecedários inauditos ilhas
remotas
sempre assim será
por vezes o sonho crê ter dito tudo
mas outro sonho se levanta e não é o mesmo
então voltas as mãos para os corações de todos
de qualquer um
não és o mesmo não são os mesmos
outros conhecem a palavra tu ignora-la
outros sabem esquecer os feitos desnecessários
e levantam o polegar esqueceram
tu hás-de regressar não importa teu fracasso
nunca terminará é infinita esta riqueza abandonada
e cada gesto cada forma de amor ou de censura
entre o riso derradeiro a dor e os começos
encontrará o vento acre e as estrelas vencidas
uma máscara de bétula pressagia a visão
quiseste ver
no fundo do dia algumas vezes o conseguiste
o rio chega aos deuses
murmúrios distantes erguem-se à claridade do sol
ameaças
frio resplendor
nada esperas
a não ser a rota do sol e da pena
nunca terminará é infinita esta riqueza abandonada
Edgar Bayley (n. Buenos Aires, Argentina, 1919 - idem, 1990), in Antología - La poesía del siglo XX en Argentina, Edición de Marta Ferrari, La Estafeta del Viento, Colección Visor de Poesía, dirigida por Luis García Montero y Jesús García Sánchez, 2010, pp. 121-122. Versão de HMBF.
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