segunda-feira, 25 de março de 2019

JORGE LEÓNIDAS ESCUDERO



A UM GRANDE POETA O DIGO

Hölderlin,
numa carta a tua mãe disseste,
lembras-te?, «o amor tudo alcança». Escreveste isso e hoje
nega-o, peço-te por favor, Hölderlin,
pois quis com uma palavra deter
a mulher que fugia e não a alcancei.

Por isso me dói ter acreditado
tão absolutamente no que escreveste
e tão seriamente que cheio de esperança
corri atrás do amor como um doido
a babar-se.

Terás mentido?
Seja como for nega-o, Hölderlin,
para que nenhum pobre apaixonado se lance
desgraçadamente para o infinito
e sofra como eu as asas destroçadas.

Jorge Leónidas Escudero (n. San Juan, Argentina, 1920 – m. 2016), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010,p. 181. Poeta tardio, publicou o primeiro livro já com 50 anos de vida. Estudou agronomia, dedicando-se posteriormente ao minério. Dele se cultiva a imagem do garimpeiro que anda de serra em serra à procura de ouro e de metais preciosos. Com a poesia reunida em mais de 800 páginas, foi merecendo no final da vida várias distinções: Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional de San Juan (2006), Prémio “Rosa de Cobre” da Biblioteca Nacional (2014). Dele se diz que escreve como fala, fazendo de cada poema um reflexo da linguagem popular.

Sem comentários: