Amamo-nos e desligamos a televisão
como que negando a realidade. Mas o mundo
insiste nas suas convicções ou procura-as
por motivos que ignoramos ou talvez
porque o crime deva continuar seu percurso.
Chegadas de fora, suas insones figuras
pressionam as paredes onde nos refugiámos.
Encarnam no vento, uivos
de pneumáticos e, nas imediações
de todas as coisas, tiroteios
que não resolvem a discórdia universal.
Agora folhas secas acumulam-se
ao pé das janelas e uma carta
de origem desconhecida desliza
por debaixo da porta.
Mas nós florescemos nus a meio da noite
que o amor por sua própria vontade decide
e por ele sabemos como fazer da história
um clamoroso escândalo a que somos alheios.
Joaquín O. Giannuzzi estudou engenharia, mas dedicou-se
desde cedo ao jornalismo. Dedicou-se à crítica literária e foi um dos
colaboradores da relevante revista Sur, dirigida por Victoria Ocampo. Publicou
o primeiro livro em 1958, Nuestros días mortalhes, ao qual foi atribuído o
prémio da Sociedad Argentina de Escritores. Existem várias reuniões da sua
poesia, a qual surge frequentemente descrita como retrato elíptico da sua
época. Fluída, prosaica, próxima do linguajar comum, ocupa-se do quotidiano com
extrema austeridade verbal e um certo humor de tonalidades negras. Versão de
HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La
poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del
Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros,
2010, p. 200.
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