sábado, 20 de abril de 2019

UM POEMA DE MARIO TREJO



A PROPÓSITO DA PALAVRA DEUS

Dizê-la
Nomeá-la
Rogá-la
Temê-la
Observá-la
Tocá-la
Negá-la
Gritá-la

Creio em todo este caos
Creio em toda esta loucura
Crimes e torturas
Que um dia terminarão

Creio em tanta injustiça
E na lei da selva
Viver é uma guerra
Que um dia terminará

Creio sem dúvida
Que no meio do incêndio
Quando tudo está a arder
Algo existe

Beleza dos loucos
Crepúsculo em chamas
Infância destroçada
Algo existe

Labirintos intrincados
Espelhos sem saída
Amor enceguecido
Algo existe

Roleta de esperanças
Memórias como flechas
Domingo interminável
Algo existe

Beijar pela primeira vez
Lutar contra o esquecimento
Reencontros inúteis
Algo existe

Balas na boca
Negro sol de tristeza
Escolher o esquecimento
Algo existe

Loucura do planeta
Razão do universo
Que ignora o bem e o mal
Tambores que à noite
Repetem a palavra
Obsessiva como o mar

Saber que não há resposta
E contudo dizer
Algo existe Algo existe


Mario Trejo (n. 1926 – m. 2012), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 219-221.

Sem comentários: