É curioso observar a forma como as pessoas avaliam a responsabilidade
política. Detenhamo-nos por instantes na Venezuela. Ainda que não simpatizemos
particularmente com Nicolás Maduro, como avaliar as acções de Guaidó nos tempos
mais recentes? Como avaliar o incitamento à manifestação popular,
garantindo aos venezuelanos que tinha as forças armadas do seu lado? Viu-se que não tinha, o
que leva a desconfiar da insensibilidade do regime. Noutras circunstâncias,
a irresponsabilidade de Guaidó tinha resultado num banho de sangue. Agora vem
admitir uma intervenção militar dos EUA. Não sei se estão recordados dos
resultados da última intervenção militar dos EUA num país estrangeiro. Enquanto
se ocupa em cimeiras com coreanos e russos e chineses, Trump saliva com a instabilidade
na Venezuela. E Guaidó bebe a saliva. Apanha o povo por tabela.
5 comentários:
Tenho pensado nisso e concordo contigo.
Não sou grande admirador de Maduro, mas sempre suspeitei das intenções do outro senhor.
Nos anos setenta o golpe já se teria dado e nós nunca descortinaríamos, por completo, as intenções. Mas hoje, no mundo de hoje, as intenções são descortinadas muito antes de algo acontecer. E isso é, sem dúvida alguma, muito bom.
Apesar da polarização das opiniões, começa a ficar muito claro que talvez Maduro esteja a ser tramado. Começa a ficar claro que o outro senhor é apenas um testa-de-ferro para os interesses dos E.U.A. e das petrolíferas.
Eu tenho-me lembrado muito de Tiananmen.
Deixem-se de equívocos: a Venezuela ainda é uma democracia? A resposta é seguramente não.
Neste sentido, quem se rege por valores de esquerda não pode ter complacência para com um regime como o de Maduro.
Existem jogos de poder por parte dos EUA? Certamente, do mesmo modo que existem jogos de poder por parte da Rússia e da China. Ninguém aqui está inocente. Mas pobre da esquerda (qualquer que seja a latitude, mais à esquerda ou mais ao centro) se só tem o Maduro e companhia para oferecer. Quero acreditar que não.
Lá está: "ter complacência para com um regime como o de Maduro". O maior problema na discussão destes temas é sempre o mesmo, as inferências. A pergunta é: que complacência?
Depois voltamos ao mesmo: éramos complacentes com Saddam quando nos opúnhamos à intervenção no Iraque? Não creio.
E já agora, deixe-me dizer-lhe que nesta matéria sinto-me muito à vontade. Fartei-me de levar nas orelhas de camaradas meus por dizer que Hugo Chávez era um populista.
E já agora, embora essa seja outra discussão (fica para mais tarde), seria interessante debater o que é hoje uma democracia. Julian Assange e Edward Snowden são nomes em que devemos pensar quando discutimos a democracia do nosso tempo. Fica a dica.
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