sexta-feira, 4 de outubro de 2019

UM POEMA DE ALEJANDRA PIZARNIK



A ENAMORADA

esta mania lúgubre de viver
esta graça recôndita de viver
arrasta-te alejandra não o negues.

hoje olhaste-te no espelho
e ficaste triste estavas só
a luz rugia o ar cantava
mas o teu amado não voltou

enviarás mensagens sorrirás
agitarás as tuas mãos assim voltará
o teu amado tão amado

escutas a sereia louca que o roubou
o barco com barbas de espuma
onde os risos morreram
recordas o último abraço
ó nada de angústia
ri no lenço chora às gargalhadas
mas fecha as portas do teu rosto
para que não digam logo
que aquela mulher apaixonada foste tu

os dias afligem-te
as noites culpam-te
dói-te tanto a vida tanto
desesperada, onde vais?
desesperada, nada mais!


Alejandra Pizarnik (n. 1936 – m. 1972), versão de HMBF a partir do original coligido por Marta Ferrari, in Antología – La poesia del signo XX en Argentina, vol. 7 da colecção La Estafeta del Viento, dirigida por Luis García Montero e Jesús García Sánchez, Visor Libros, 2010, pp. 346-347.

1 comentário:

disse...

Uma poeta em MAIÚSCULAS