Na linha da frente. Eis uma expressão que sempre me
irritou. Na livraria, a linha da frente dividia-se entre best-sellers e
campanhas merdosas. A guerra mete na linha da frente os que são para morrer
primeiro. Chamavam-se vanguardas, coisa que tem a sua piada até a vanguarda se
desfazer em húmus. Ultimamente a expressão é usada para nos referirmos a
médicos e enfermeiros, sempre num tom tão respeitoso que lembra os samurais
diante do imperador. Ninguém nega a relevância do trabalho, nem sequer se põe
em causa essa relevância. Importa acrescentar que para esse trabalho poder ser
feito os materiais têm que chegar onde são precisos, pelo que os
transportadores também estão na linha da frente; os produtos têm de ser fabricados,
pelo que os operários estão na linha da frente. E por aí em diante, pelo que a
linha da frente tem muitas camadas, tal e qual um mil folhas, as coisas
ligam-se umas às outras. Um simples gesto tão básico e necessário como beber
água obriga a que imensa gente permaneça na linha da frente. Respeito de igual
modo toda esse massa anónima que, independentemente da sua função, a desempenha
discreta e eficientemente. Não receberão medalhas, ninguém se lembrará deles,
porque na expressão linha da frente só cabe o pico da pirâmide. A base fica sem
rosto.
1 comentário:
Também é verdade. Nunca esquecer deles.
Enviar um comentário