quinta-feira, 14 de maio de 2020

UM POEMA DE CARL SANDBURG


CHAMFORT

Apresento Chamfort. Um exemplo.
Fechou-se na biblioteca com uma pistola
e com um tiro desfez-se do nariz e do olho direito.
E este Chamfort sabia como se escreve

— milhares de pessoas liam os seus livros sobre a maneira de viver 
mas não era capaz de se matar
por suas próprias mãos — estão a perceber?
Foram dar com ele no tapete, num charco de sangue,
frio como uma madrugada de Abril:
falava e falava, dizendo máximas divertidas e pungentes epigramas.
Pois bem, tapou o nariz e o olho direito com uma venda,
bebeu café e conversou anos e anos
com homens e mulheres que gostavam dele
porque sabia rir e todos os dias desafiava a morte:
«Vem daí buscar-me!»

Carl Sandburg, in Antologia Poética, traduções de Alexandre O'Neill e Vasco Gato, Flâneur, 1.ª edição dezembro de 2017, 1.ª reimpressão Março de 2019, p. 19.

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