TÚMULO DE HERÓIS ANTIGOS
O tempo não urge mais neste loco dolenti.
Eles dormem nas suas pálpebras em sono
desmedido um intento não logrado, entoando
a meia voz hinos e canções que se esvaem
pelas altas janelas direitas ao país natal,
num sonho agraciado com galões e dragonas,
canutilhos nos ombros e no peito,
onde uma esperança diferida demora-se
e um pavilhão ondula in memoriam
no vento frio e seco do norte;
quantos lutaram passando a pólvora
pelo crivo, levando ao ombro a alma
da boca de fogo, contra um ceptro,
um trono, sua influência soberana
em terras estas onde nasceram;
quantos morderam o pó; solta a retranca
dos cavalos, ouvido o tambor dos sitiados,
arvorada a bandeira branca pela conta certa
dos que ficaram, bando de insurgentes,
passados à faca, jungidos como se metem
os bois à canga, proclamaram uma verdade
entre gritos de alarme expiando:
para sempre por pagar em oiro e em prata
o soldo das suas vidas expostas,
sem o broquel dos antigos, na linha de tiro.
Paulo Teixeira, in Túmulo de Heróis Antigos, Caminho, Abril de 1999, pp. 76-77.
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