domingo, 26 de julho de 2020

CÚMPLICES


Parafraseando o Chicão: "Portugal não é um país racista." Parafraseando Rui Rio: "Não há racismo na sociedade portuguesa." Parafraseando André Ventura: "Racismo é um fantasma que não existe." O raçudo lusitano que executou este preto disse à sua vítima o mesmo que Ventura disse a Joacine: "vai para a tua terra." Lá (USA, Brasil, etc) como cá, alguns políticos eximem-se de responsabilidades negando relações de causa-efeito entre o que dizem, o exemplo que dão e o que acontece à sua volta. No fundo, negam o principal trunfo do exercício político que é poder influenciar atitudes e comportamentos através da palavra, do discurso, da retórica. Sim, as palavras têm consequências. Sim, as palavras influenciam. Há muita gente que anda a brincar com o fogo ao brincar com as palavras quando o tema é o racismo. Esta é uma das consequências. Não venham agora com paninhos quentes dizer "lamentável", "são coisas que acontecem", "investigue-se". Já toda a gente percebeu que um problema existe, excepto aqueles que insistem em negar o problema contribuindo com essa negação para que ele se agrave. Isto não é uma rixa de delinquentes na praia de Carcavelos, isto é racismo puro e duro. Tal como foi racismo o assassinato de Alcindo Monteiro por um escarro de gente que RTP e TVI exibem impunemente nos seus programas familiares. Há racismo em Portugal. Negá-lo é em si mesmo ser cúmplice com ele.

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