terça-feira, 21 de julho de 2020

OS LIVROS


Os livros, esses mal-amados. Uma stôra é saco de pancada por ter dito a verdade numa entrevista. Já não se pode dizer verdades. Eu sempre ouvi dizer que quem diz a verdade não merece castigo, não entendo por que tem de ser diferente com stôres. Fui colega de curso de pelo menos duas almas que se gabavam de nunca ter lido um livro na vida. Podem achar estranho alguém gabar-se de tal coisa, eu não. É como aqueles tipos que se gabam de ser pais sem nunca terem dado uma para a caixa, se é que me faço entender. Enfim, um dos tais colegas tem feito a vida toda como stôr de filosofia. É o que mais há. A gente lá na loja dos livros tinha a mania de classificar a clientela pelas classes profissionais. Os stôres estavam no topo das criaturas intragáveis. A culpa não era deles nem dos livros, mas da própria palavra intragável. É natural, a vida está difícil e ser professor não é um mal menor. Lamento pelos alunos. O que pretendo dizer é que não me admiro da existência de professores que não gostam de ler, pois tive de lidar muito e de muito perto e durante muitos anos com escritores e editores do mesmo recorte. Sem querer exagerar, todas as semanas atendi pelo menos uma néscia alma (é destas o reino dos céus) que pretendia saber quais os passos a dar para publicar o seu livro. Às tantas, comecei a responder de um modo que me pareceu o mais pragmático: dê dois passos até uma estante, compre um livro e leia. Para um escritor, é princípio como outro qualquer. A modos que não me espanto. O que ainda me causa espanto é haver tanto livro novo, tanta editora nova, tanto escritor novo, para tão poucos leitores. Agora que entre toda esta gente haja tanta que detesta livros, não me admiro mesmo nada. Eu também estou para aqui a escrever e detesto isto.

1 comentário:

Espiral disse...

Concordo com tudo o que disse.

Também não percebi a celeuma por uma professora de português não ler.

É o que temos.

Eu leio muito. Até há dois anos, em média 100 livros por ano (normalmente até mais uma dezena), o ano passado por motivos profissionais não cheguei aos 60, e este ano também por motivos profissionais (trabalhos extra, têm que se ganhar a vida) vou nos 38, irei pelo mesmo caminho.

Mas apesar disso, sempre foi para mim quase natural ver pessoas que não lêem. Aliás, ainda acho mais graça aquelas pessoas que dizem "adoro ler" e se calhar nem um livro por ano lêem.

Também não percebo de onde saltam tantos autores e editoras, mas há editoras muito boas :)

Cumprimentos literários

Espiral