terça-feira, 8 de setembro de 2020

UM POEMA DE DEREK MAHON

 


AVÔ
 
Trouxeram-no do mundo numa maca,
Ferido mas humorado. E logo recuperou.
Salas de caldeiras, filas e mais filas de pórticos abrindo-se
Para revelar a paisagem de uma infância
Que só ele pode reconquistar. Mesmo nas manhãs
Frias levanta-se às seis com um bloco de madeira
Ou uma caixa de pregos, discreto nas intenções
Ou martelando à volta da casa como se tivesse quatro anos
 
Nunca está quando precisas. Mas depois de escurecer
Ouves o som das suas botifarras no corredor
E nelas ele chega, o mais querido possível. Cada noite
Os seus olhos argutos trancam a porta e acertam o relógio
Face ao futuro, depois a sua luz desaparece.
Nada lhe escapa; ele escapa-nos a todos.
 
 
Versão de HMBF.

2 comentários: