sábado, 2 de janeiro de 2021

UMMH (1970)

 


Amigos são aqueles a quem admites erros, confessas pecados, sem recear sentenças ou avaliações de carácter. Pode ser o barman a quem pedes uma última bebida fora de horas, o animal de estimação com quem repartes o silêncio do lar, pode ser uma árvore num jardim à sombra da qual espreitas o sossego numa tarde de Verão, pode ser um desconhecido que por alguma razão te aborda e por outra razão qualquer se mostra disponível para ouvir o mais recente dos teus pequenos crimes. Pode ser o vibrafone de Bobby Hutcherson a rodopiar na cóclea enquanto conduzes pela noite interminável, a planta que regas impreterivelmente à mesma hora do dia e deixas ao cuidado de uma vizinha quando vais de férias, pode ser uma estrela que julgas mais brilhante do que todas as outras quando o firmamento se abre às tuas veias e as tuas veias se abrem para delas não escorrer senão medo e fúria. Não sei porque escrevi isto agora, talvez me tenha parecido poético. Não é. Amigo pode ser o texto que te parece poético, mesmo que o não seja.

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