Por outro lado, veja-se o caso dos Buckley. Tim, o pai, morreu de overdose com apenas 28 anos. Gravou quase uma dezena de discos. Jeff, o filho, tinha 30 quando desapareceu depois de mergulhar no Wolf River. Terá sido acidental. Deixou apenas um álbum em vida, com o qual granjeará a eternidade. Penso neles como exemplo de evolução, apesar de a desgraça ter-se mantido fiel aos seus propósitos no percurso destas vidas. Há tanta gente a morrer, todos os dias somos apanhados pelo desaparecimento de alguém conhecido. Uns inesperadamente, outros cumprindo a lei da vida. Assim fica deprimente. As pessoas deviam nascer com o currículo feito, para que as celebrássemos logo à nascença. Em vez de darmos a notícia da morte de alguém, daríamos a notícia do nascimento. Nasceu Jeff Buckley em Anaheim, Califórnia, será um belíssimo rapaz com uma voz encantadora, passaremos a acreditar na existência de anjos ao ouvi-lo cantar, deixará gravado um disco com o título Grace que constará entre as mais belas criações humanas. Assim teria sido em 1966, assim seria hoje. Acabou de nascer no Centro Hospital do Oeste uma menina muito inteligente, descobrirá a cura para todos os cancros e com isso ganhará o Nobel da Medicina no ano de 2070. Tal como andamos torna-se difícil, os telejornais a abrirem diariamente com tragédias, queixas, notícias tristes e deprimentes, as falhas no hospital não sei de onde, o juiz cretino que disse não sei o quê, o governo não sei das quantas que faltou à promessa não sei de quantos. Que tacanhez. É tanta a maledicência, até parece que os poetas tomaram conta do mundo. Valha-nos Deus que tudo não passe de um equívoco.
1 comentário:
Estupendo. Textos destes, mesmo (creio) não serem escritos com intenção de conhecer as páginas de um livro, ficavam bem num livro.
Talvez fosse é difícil arranjar-lhes uma categoria (não é conto, não é ensaio...), mas isso que importa? Abraço
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