domingo, 14 de fevereiro de 2021

UNTITLED #1 (1995)

 


Apanhei nas redes sociais uma conversa sobre concertos na Aula Magna. Não me meti, ando sem paciência para conversas. Lembrei-me que fui a vários. Concerto memorável, o da banda do filho do contrabaixista Charlie Haden. Podia ter dito banda de Josh Haden, mas não seria a mesma coisa. É peso terrível que se carrega pela vida, o apelido, para mais quando o associamos a um génio ou a uma figura pública relevante. Penso nos herdeiros das grandes figuras do Partido Nazi. Que peso, meu Deus. Imaginem se Pessoa tivesse deixado filhos. Coitados. Seriam, certamente, umas miseráveis criaturas deprimidas e deprimentes. Bom mesmo é ter pais inúteis ou anónimos. Só desejo que as minhas filhas olhem sempre para mim como um inútil. A Beatriz chama-me totó, a Matilde queixa-se de que sou desmazelado. Abençoadas filhas. Que me vejam sempre como um desastre incorrigível, um acidente parado observando-se a si mesmo com repulsa. Será uma alegria saber que não lhes pesarei mais do que uma pena, o pai totó e desmazelado. Ou será desleixado? Dizem que devia ter mais vaidade em mim, cuidar do aspecto, essas coisas, mas eu gosto mesmo é das minhas peúgas rotas e dos boxers esgarçados e das calças rasgadas e dos colarinhos coçados e do borboto nas camisolas. No álbum dos Spain também tocam Petra Haden (violino) e Tanya Haden (violencelo). Reparo que esta é casada com o actor Jack Black. Desejo as maiores felicidades aos filhos que possam ter.

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