(…)
Para mim, um poema é a primeira pressão a frio da experiência. Qualquer coisa de essencial é extraído do caos da vida, a partir do desconhecido constrói-se qualquer coisa que se pode conhecer, no coração do tumulto descobre-se um silêncio, da confusão nasce a claridade. E é sempre temporal, uma evocação da nossa condição mortal, um prazer que insiste na sua dificuldade.
(…)
Um poema é uma renegação do privilégio que nega a mortalidade: não é nem eterno nem imediato. É uma outra coisa. Um poema só existe no momento em que é lido ou ouvido. O resto é memória.
O que é um poema? Seria preciso
um poema para responder a esta questão, o que pode começar a deixar entrever o
que é um poema. Talvez um poema seja uma resposta imaginária a uma questão
inexistente. Talvez um poema seja uma condensação de sentido a ponto de chegar
a uma realidade única e indesmentível (por mais modesta que seja). Talvez um
poema seja música disfarçada de escultura, ela própria escondida num quadro. Talvez
um poema seja qualquer coisa que insiste na presença ao ponto de se tornar pura
presença. Talvez um poema seja apenas o espaço entre dois silêncios (mas o
silêncio depois do poema é diferente do que o precede, o silêncio é alterado
pelo poema). A poesia existia antes da escrita. Era uma arte oral/uma tradição
oral. Para existir, nem que fosse só para existir, a poesia exigia que o poeta
falasse ou cantasse diante de outro. O poema nascia no ouvido do ouvinte. Era
teatro.
Daniel Keene, in Pièces courtes 2, Montreuil-sous-Bois, Éditions Théâtrales, 2007.
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