quarta-feira, 20 de outubro de 2021

HAPPINESS (1994)

 


Apaixonei-me pelos Grant Lee Buffalo ao primeiro encontro, que foi com o segundo álbum, depois desiludi-me e nunca mais regressei à mesa de Grant-Lee Phillips, índio pela parte materna. Na Wikipédia diz-se que é membro da Creek Native American tribe e descendente directo dos desapossados que percorreram o chamado Trail of Tears. São índios que foram expropriados das suas terras e confinados em reservas como animais selvagens. Em 1994 eu ia fazer 20 anos e estava exilado em Lisboa, para onde me deslocara dois anos antes. Deprimido e à beira de um esgotamento, farto de transportes públicos e de prédios e da agitação da cidade, fumava muito e bebia mais. E lia desalmadamente. Não me conformava com o tempo perdido nas estações e com os rostos das pessoas a caminho do trabalho e com o ambiente escolar que fui encontrar, tão afastado dos problemas para os quais já então buscava respostas. Passava horas seguidas a ouvir repetidamente Mighty Joe Moon, a decorar letras como Demon called Deception. Jamais me passaria pela cabeça regressar a estes versos com o mesmo reconhecimento, uma espécie de identificação que nos leva a supor estarmos a olhar para um espelho enquanto ouvimos uma canção. Agora, a caminho dos 47, reencontro-me com o mesmo tipo de tristeza que então sentia e fico espantado com a indiferença que lhe dedico. Se então me afectava, agora é-me indiferente. Acolho-a como a um cachorro perdido nas ruas da cidade e afago-lhe o pêlo, sussurrando-lhe ao ouvido que não o poderei adoptar porque já não me sobra espaço em casa. Terás de ir à tua vida tristeza, desenrasca-te. 

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