O PASSADO É UMA CASA ABANDONADA DE ONDE NUNCA CONSEGUIMOS SAIR
Para a tia Lu, minha segunda mãe (in memoriam)
— na floresta há um monstro
e ele é muito parecido comigo
quando criança
só você me salvava dos pesadelos:
— criança silenciosa, não ouça o barulho lá de fora
hoje,
não estamos a salvo
ninguém está
ninguém abafou o fogo
ninguém descobriu a cura do fim
a criança se perde no silêncio
a chorar de verdade
(memento mori)
na confusão do incêndio,
ouvi do trovão
seu labirinto
aberto ( fogueira ) nevoeiro
estou só, com as ferrugens do passado
você não mais é em mim aquele lugar no mundo
o quarto está escuro
a criança se perde no silêncio
e encara a verdade
— na floresta há um monstro
e ele é muito parecido comigo
Natália Agra, in Noite de São João, com prefácio de Simone Brantes e posfácio de Tarso de Melo, Douda Correria, Outubro de 2020, s/p.
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